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domingo, 5 de setembro de 2010

Eu trocaria a eternidade por essa noite



Dom Casmurro -Machado de assis (pág 18 e 19 ). É grandinho,mas eu adorei =)



Com que então eu amava Capitu, e Capitu a mim? Realmente, andava
cosido
às saias dela, mas não me ocorria nada entre nós que fosse
deveras secreto.
Antes dela ir para o colégio, eram tudo travessuras de
criança; depois que
saiu do colégio, é certo que não estabelecemos logo
a antiga intimidade, mas
esta voltou pouco a pouco, e no último ano era
completa. Entretanto, a
matéria das nossas conversações era a de
sempre. Capitu chamava-me às vezes
bonito, mocetão, uma flor -
outras pegava-me nas mãos para contar-me os
dedos. E comecei a
recordar esses e outros gestos e palavras, o prazer que
sentia quando
ela me passava a mão pelos cabelos, dizendo que os achava
lindíssimos.
Eu, sem fazer o mesmo aos dela, dizia que os dela eram muito
mais
lindos que os meus. Então Capitu abanava a cabeça com uma grande
expressão de desengano e melancolia, tanto mais de espantar quanto
que
tinha os cabelos realmente admiráveis - mas eu retorquia
chamando-lhe
maluca. Quando me perguntava se sonhara com ela na
véspera, e eu dizia que
não, ouvia-lhe contar que sonhara comigo, e
eram aventuras extraordinárias,
que subíamos ao Corcovado pelo ar,
que dançávamos na lua, ou então que os
anjos vinham perguntar-nos
pelos nomes, a fim de os dar a outros anjos que
acabavam de nascer.
Em todos esses sonhos andávamos unidinhos. Os que eu
tinha com ela
não eram assim, apenas reproduziam a nossa familiaridade, e
muita vez
não passavam da simples repetição do dia. alguma frase, algum
gesto.
Também eu os contava. Capitu um dia notou a diferença, dizendo que
os dela eram mais bonitos que os meus, eu, depois de certa hesitação,
disse-lhe que eram como a pessoa que sonhava... Fez-se cor de
pitanga.
Pois, francamente, só agora entendia a comoção que me davam essas e
outras confidências. A emoção era doce e nova, mas a causa dela fugiame,
sem que eu a buscasse nem suspeitasse. Os silêncios dos últimos
dias,
que me não descobriam nada, agora os sentia como sinais de
alguma cousa, e
assim as meias palavras, as perguntas curiosas, as
respostas vagas, os
cuidados, o gosto de recordar a infância. Também
adverti que era fenômeno
recente acordar com o pensamento em
Capitu, e escutá-la de memória, e
estremecer quando lhe ouvia os
passos.
Se se falava nela, em minha
casa, prestava mais atenção que
dantes, e, segundo era louvor ou crítica,
assim me trazia gosto ou
desgosto mais intensos que outrora, quando éramos
somente
companheiros de travessuras. Cheguei a pensar nela durante as missas
daquele mês, com intervalos, é verdade, mas com exclusivismo
também.
Tudo isto me era agora apresentado pela boca de José Dias, que me
denunciara a mim mesmo, e a quem eu perdoava tudo, o mal que
dissera, o
mal que fizera, e o que pudesse vir de um e de outro.
Naquele instante, a
eterna Verdade não valeria mais que ele, nem a
eterna Bondade, nem as demais
Virtudes eternas. Eu amava Capitu!
Capitu amava-me! E as minhas
pernas andavam, desandavam,
estacavam, trêmulas e crentes de abarcar o
mundo. Esse primeiro
palpitar da seiva, essa revelação da consciência a si
própria, nunca mais
me esqueceu, nem achei que lhe fosse comparável qualquer
outra
sensação da mesma espécie. Naturalmente por ser minha. Naturalmente
também por ser a primeira.

Um comentário:

Bella disse...

Um dos melhores livros que já li, mari! Adoreei o blog!!!! Bj